Desses amores eternos
Ela mal abriu
os olhos e já foi se escondendo entre os braços, só deixando à mostra o incrível par de olhos castanhos. Ela pareceu um pouco envergonhada mas sabia onde estava. Sorri e
desejei bom dia - o meu havia começado como o primeiro dia de férias de verão.
Os fios de cabelo espalhados pela cama denunciavam a incrível noite que
tivemos. Dormiu bem? Prossegui. A conheci na noite passada e a menos que ela
esteja de partida para o Japão sinto que é a mulher da minha vida. Só falta
lembrar seu nome.
Não foi muito romântico, confesso, até meu amigo estava de olho
nela, mas quem não estava? Tentei deixa-la decidir, mas meu coração teimou desde o momento que ela chegou no apartamento do Pedro acompanhada por
uma amiga – a troca de olhares foi inevitável. Não lembro de muita coisa,
só que ela usava preto, trazia um chileno El País de Quenehuao, fez cinema e era bailarina, meu Cisne Negro! Também lembro que quando sorria olhava para baixo disfarçando a timidez e em seguida levantava a cabeça com um olhar profundo, daqueles
que só as lendas conseguem arrastar homens hipnotizados para o fundo do mar. E
o navegante aqui teve fé, pois o beijo é uma reza pra um marujo que se preza. E
rezamos juntos a noite toda até adormecer nesse mar de lençóis.
Espero que ela goste de café e torradas com geleia de myrtille,
não quero errar no primeiro café de nossa eternidade. Ela garante que dormiu
bem e pergunta dos sapatos. Calma, meu bem, um café primeiro. Fique descalça. Eu estou! Você é tão
encantadora quanto a voz da Clare Torry, mais fascinante que os olhos do Chico
e mais contagiante que um álbum dos Beatles. Por favor, não vá agora. Ao menos
sem me dizer seu nome e endereço. A capitã riu e falou meu nome. Passou minha
ficha inteira, incluindo meu time e a cidade dos meus pais. Disse que não
ficava para o café, tinha um voo para o Japão.
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