É a danada da saudade

É saudade. Pensei em outro nome para não me expor tanto, mas não encontrei nenhum similar que defina isso. Ainda pela manhã fechei os olhos e imaginei seu abraço quente. Nunca sei se você me abraça ou se me prende ao teu corpo para eu não te empurrar da cama. Ainda estou de pijama e afogada entre lençóis, pensando em como transformar essa quarta-feira quase de cinzas numa sexta carnavalesca. Quando a saudade aperta o grão de areia não passa pela ampulheta. Imaginei nosso baile de carnaval um pouco egoísta, só para não ter que te dividir com ninguém. Que a folia não demore.

A saudade tem esse dom e me parece caso perdido tentar lutar contra. Não precisa e nem pode ter pressa. Ou ela só aumenta e nos faz enlouquecer. Creio que já estou. Poxa, ainda é quarta-feira. Alguém sabe da sexta? Parece câimbra no coração. Só hoje já te quis milhões de vezes!

Saudade sempre é de coisa boa. Sempre tem um por quê ou um por quem. Da viagem de férias, do cheiro de café fresco, dos amigos de infância, do cafuné da mãe, de comer pipoca assistindo Sessão da Tarde e de você. No Aurélio encontra-se “lembrança grata”. É recordação. Remete a uma época também. Mas você não é passado, é presente com laço vermelho. Faz gratidão aos nossos momentos e os segundos após já se tornam saudades. É bonito nosso tempo, é viciante e sempre me faz querer mais. Abraço o travesseiro só para sentir você por perto. Quando me falam sobre saudade acho bonito, parece soar do último romântico. Mas a verdade é que não tenho aptidão para ser uma personagem de Camilo Castelo Branco. Quero tudo de prontidão. Você principalmente.

Se tem algo que me consola é saber que a saudade passa. E volta. E passa. E como a melhor das felinas a danada tem mais de 7 vidas (ou idas e vindas). Ouvi falar que fica impune quem mata a saudade. Justo para corações apaixonados. Mas ela ressurge. Está nos discos que ouço até te ver, no travesseiro que insisto em abraçar, nos meus passos descalços pela casa e, folgada como sempre, senta ao meu lado na cadeira vazia do restaurante. Às vezes ficamos amigas. Juntas fazemos besteiras: te mandamos mensagem em plena madrugada, abrimos um vinho enquanto acordamos os vizinhos com nossa música e pulamos a dieta com brigadeiro no jantar. E apesar de durona ela é carinhosa. Me ajuda a relembrar os momentos bons que você me faz.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

'A Dama da Lotação' se transforma em 'Dama 2'

Ofício de Alfaiate: a bancada de Roldão de Souza Filho

O dia em que apaguei nossas mensagens